Em que constitui o conhecimento sociológico? A resposta tem implicações para o status da sociologia como uma disciplina científica ou humanística, para a atividade da própria sociologia e para o poder explanatório das proposições sociológicas. A tentativa de unir a pesquisa empírica às preocupações teóricas gera um modelo para disciplinar o trabalho sociológico. Uma afirmação metodológica difere o trabalho empírico descritivo (sociografia) do trabalho empírico-teórico (sociologia). O “método científico” não é apenas entendido como coleta e análise de dados, mas envolve uma preocupação com problemas teóricos e uma necessidade de explicar o fenômeno social através de trabalho teórico. O autor não nega o valor da pesquisa descritiva. Os problemas e as teorias derivadas da sociologia dão os critérios com os quais os dados serão selecionados e organizados. O sociólogo empirista busca entender e explicar o fenômeno social e não simplesmente descrevê-lo, e interpreta o mundo através de uma referência, que necessariamente envolve teoria e estratégias e técnicas de investigação empírica. Quanto mais descritiva, menor seu valor científico. A complexidade teórica de conhecimento sobre a sociedade faz com que seja sempre muito difícil estabelecer a relação entre os dados e a teoria. Levamos em consideração o que eles fazem, ou o que os atores dizem que estão fazendo, ou o que nós sociólogos dizemos que eles estão fazendo? Os dados e a interpretação dos mesmos estão interconectados. Outra dificuldade é explicar o fenômeno social. Alguns dizem que a ciência social progride coletando fatos que dão generalizações e que teoria social são os conceitos usados para a descrição dos fatos sociais, que juntos dão explicações causais ou geram correlações significativas. Mas essa explicação não é satisfatória, pois a explicação do comportamento social é um problema extremamente complexo que requer procedimentos cuidadosos e sensibilidade teórica. A tendência oposta é um estudo da sociedade em termos puramente teóricos. Teoria e estudo empírico são necessários!
Sociologia envolve método e usamos indiscriminadamente os termos explicados a seguir: Metodologia geral (estudo sistemático e lógico dos princípios gerais que guiam a investigação social. Como o sociólogo estabelece o conhecimento social e como pode convencer outros que esse conhecimento é correto), Procedimento ou estratégia de pesquisa (o caminho que um estudo empírico é projetado e conduzido, as técnicas que foram utilizadas), Técnicas de pesquisa (as operações específicas para a coleta de dados sobre o mundo social). Esse trabalho tenta integrar esses três aspectos dos métodos de pesquisa sociológica.
De alguma forma as estratégias e as técnicas de pesquisa são independentes das disciplinas acadêmicas que estão associadas. Uma tese principal desse livro é a de que a os métodos devem sempre ser vistos em seu contexto, com relação aos problemas e as teorias com os quais eles são usados para iluminar! E não se pode desconectar os métodos de seu contexto! Alguns pregam que numa pesquisa deve-se executar os seguintes estágios: Planejamento da pesquisa, amostragem, construção do questionário, coleta de dados, codificação e análise dos dados, interpretação e relatório escrito. Esse tipo de guia é útil para procedimentos quantitativos, mas não para os qualitativos, por causa do inesperado na pesquisa social. Tanto na construção teórica quanto na coleta de dados. Nem todas as pesquisas são do tipo “survey”. Além de que esse guia não enfatiza a natureza do problema e a coleta de dados. Pois há uma interação entre o pesquisador e as pessoas que estão sendo pesquisadas, que é crucial para a natureza da investigação. Um modelo de planejamento para todos os tipos de pesquisa em termos de estágios não é algo totalmente plausível!
O problema liga o método e a teoria! Essa discussão contribui para a relação entre a teoria sociológica e a pesquisa empírica. Problema requer explicação – suposições e hipóteses – testes de fatos que normalmente geram novos problemas. Há diferença de temporalidade entre problema e questão, onde problema é algo que temos que resolver, como condição de nossa existência. Os dois têm uma curiosidade implícita. Existem três tipos de problemas: Problemas de ação/regra (quotidiano da sociedade, problema de importância social direta); problema de filosofia social (muitos tão velhos quanto a história humana – autoridade, status, alienação...), e problema interno da sociologia, gerado por outras pesquisas sociológicas (conflitos entre teorias existentes...). Ao passar do tempo há uma tendência de problemas públicos se tornarem problemas de ação e esses a problemas científicos. Existe forte inter-relação entre problemas, teorias e métodos. Algumas correntes da sociologia contemporânea surgem pela tensão produzida pelo desejo de ser tecnicamente competente e ao mesmo tempo filosoficamente sofisticado.
O texto tem como referência: BULMER, Martin. Introduction: Problems, Theories and Methods in Society – (How) Do They Interrelate? In: Socilogical research methods – an introduction. Org. Martin Bulmer. London: Macmillan, 1984. (p. 1-33)
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Problems, Theories and Methods in Society
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