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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mais de 2500 visitas em quatro meses

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFRGS mantém conceito de excelência internacional

O Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFRGS manteve o conceito 6 na última avaliação trienal da Capes 2007-2009, recentemente divulgada. Desta forma, o PPG Sociologia UFRGS se consolida como um centro de excelência na sociologia do país, em padrão internacional. Este resultado é fruto do trabalho desenvolvido pelos docentes e discentes do Programa, todos de parabéns, neste momento. A Avaliação dos Programas de Pós-graduação compreende a realização do acompanhamento anual e da avaliação trienal do desempenho de todos os programas e cursos que integram o Sistema Nacional de Pós-graduação, SNPG. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) divulgou nesta quarta-feira, 14 de setembro, o resultado da Avaliação Trienal dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu. A avaliação contou com a participação de 877 avaliadores com qualificação e competência técnico-científica nas suas respectivas áreas de conhecimento. Os avaliadores, organizados em 46 comissões de avaliação, analisaram os dados referentes ao período de 2007 a 2009 que foram informados pelos programas avaliados. Os resultados desse processo, expressos pela atribuição de uma nota na escala de "1" a "7" fundamentam a deliberação CNE/MEC sobre quais cursos obterão a renovação de "reconhecimento", a vigorar no triênio subseqüente. Além disso, a colocação na escala define a alocação de recursos e bolsas para os programas com maior nota. Foram avaliados 2.718 programas de pós-graduação que correspondem a 4.099 cursos sendo 2.436 de mestrado, 1.420 doutorados e 243 mestrados profissionais. Os programas de pós-graduação receberam notas numa escala de 1 a 7, sendo que: 1 e 2 indicam o descredenciamento do programa, enquanto notas 6 e 7 indicam desempenho de referência e de inserção internacional. Para programas que tenham apenas mestrado, 5 é a nota máxima. Do total de programas avaliados, 2,7% obtiveram notas 1 ou 2; 32% nota 3; 33,6% nota 4; 20,6% nota 5; 6,8% nota 6 e 4,1% nota 7. A proposta do programa, perfil do corpo docente e discente, produção intelectual e inserção social são itens extremamente relevantes do processo avaliativo da CAPES.

domingo, 19 de setembro de 2010

Direto ao ponto 3: Anthony Giddens




"À medida que ganham força, as mudanças (...) estão criando algo que nunca existiu antes, uma sociedade cosmopolita global. Somos a primeira geração a viver nessa sociedade, cujos contornos até agora só podemos perceber indistintamente. Ela está sacudindo nosso modo de vida atual, não importa o que sejamos. Não se trata – pelo menos no momento – de uma ordem global conduzida por uma vontade humana coletiva. Pelo contrário, ela está emergindo de uma maneira anárquica, fortuita, trazida por uma mistura de influências. [§] Ela não é firme nem segura, mas repleta de ansiedades, bem como marcada por profundas divisões. Muitos de nós nos sentimos presos às garras de forças sobre as quais não temos poder. (...) A impotência que experimentamos não é um sinal de deficiências individuais, mas reflete a incapacidade de nossas instituições [nação, família, trabalho, tradição]. Precisamos reconstruir as que temos, ou criar novas. Pois a globalização não é um acidente em nossas vidas hoje. É uma mudança de nossas próprias circunstâncias de vida. É o modo como vivemos agora. (GIDDENS, 2007 [1999], p. 28-29)"

GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós (1999). Tradução de Maria Luiza Borges. 6ª edição. São Paulo: Editora Record, 2007. 108p.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Direto ao ponto 2: Bruno Latour



"Há uma maneira contemporânea de pensar que pode ser definida como um “barateamento” da crítica ou uma trivialização do espírito crítico. A crítica tornou-se uma espécie de fundamentalismo semi-religioso que proclama “ver através” de tudo e descobrir, por trás do direito, da ciência, da religião, da política, as “verdadeiras forças” que trabalham escondidas e que só são reveladas pelos olhos dela mesma. É um “sociologismo” enlouquecido, a invenção de um além-mundo que explica tudo o que se passa neste mundo por revelar as forças ocultas, enquanto o resto de nós, coitado, vive na ilusão".

Entrevistas com Bruno Latour, Jornal Folha de São Paulo, Agosto e Setembro de 2004.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Norbert Elias: relações sociais, sociedade e individualização

Para compreendermos a sociedade é preciso que construamos modelos conceituais e que tenhamos uma visão global, mediante aos quais possamos tornar compreensível no pensamento aquilo que vivenciamos diariamente na realidade. Essa possibilidade nos foi fornecida pela teoria da Gestalt, a qual penetrou mais a fundo nesses fenômenos, ensinando-nos que o todo é diferente da soma de suas partes e que ela incorpora leis de um tipo especial, a qual não pode ser elucidada pelo exame de seus elementos isolados, ou seja, as unidades de potência menor dão origem a uma unidade de potência maior que não pode ser compreendida quando suas partes são consideradas em isolamento, independentemente de suas relações. Desta forma, só pode haver uma vida comunitária mais livre de perturbações e tensões se todos os indivíduos dentro dela gozarem de satisfação suficiente, e só pode haver uma existência mais satisfatória se a estrutura social pertinente for mais livre de tensão, perturbação e conflito. Assim temos que qualquer idéia que aluda a essa disputa é infalivelmente interpretada como uma tomada de posição a favor de um lado ou de outro, ou seja, como uma apresentação do indivíduo enquanto ‘fim” e da sociedade enquanto “meio”, ou uma visão da sociedade como o mais “essencial” ou “objetivo mais alto” e do indivíduo como “menos importante”, o “meio”. Toda concepção de Elias deixa presente e clara a idéia de que o indivíduo é uma construção histórica e datada. Ela começa a surgir com o renascimento, nos séculos XIV e XV, e se aprofunda ao longo do processo de formação da modernidade da humanidade no ocidente. Ele chamará de processo civilizador a tensão entre ordens e proibições sociais inculcadas como auto domínio e os instintos e inclinações controladas e recalcadas dentro do próprio ser humano. O peido é um exemplo de uma proibição externa que vai ser internalizada até uma proibição interna, algo que é constrangedor ao próprio indivíduo quando em sociedade. Ora, pare Elias o indivíduo é uma estrutura formada por relações sociais históricas internalizadas, onde os indivíduos que nascem já encontram uma sociedade pronta. O indivíduo é a expressão singular de uma construção histórica que permitiu a consciência da individualidade. Enquanto estrutura psicológica o indivíduo é uma invenção histórica, ou seja, uma estrutura que surge do processo civilizador. A estrutura e a configuração do indivíduo é fruto do controle comportamental que se impôs a partir de regras de civilização ditadas pelo convívio entre os indivíduos. Algo ritual é incorporado na estrutura mental como algo natural. Os sentimentos de vergonha, por exemplo, foram construídos historicamente. Pensamos que “ser humano” é comer com talheres, cagar no banheiro. Todas essas “coisas rituais” são socialmente “naturais”.

“O modo como essa forma realmente se desenvolve, como as características maleáveis da criança recém-nascida se cristalizam, gradativamente, nos contornos mais nítidos do adulto, nunca dependem exclusivamente de sua constituição, mas sempre da natureza das relações entre ela e as outras pessoas. (...) A individualidade que o ser humano acaba por desenvolver não depende apenas de sua constituição natural, mas de todo o processo de individualização.”(p.28)

A relação indivíduo/sociedade é tida como duas dimensões indissociáveis dos seres humanos em seu convívio. A idéia de que o indivíduo deve tudo a ele mesmo, a sua natureza e a mais ninguém, é uma construção que faz parte da formação da individualidade das sociedades modernas. Ora, a sociedade não produz apenas o semelhante e o típico mas também o individual em seu próprio processo de construção. Sob esta forma de conceber a sociedade temos que esta emerge em planos, de forma não planejada sendo movida por propósitos, mas sem uma finalidade. Norbert Elias busca compreender um processo de emergência do indivíduo como resultado de um desenvolvimento histórico. Há uma ordem oculta que conforma a vida em comum e que oferece uma gama mais ou menos restrita de funções e modos de comportamento possíveis, mas esta ordem não existe como uma substância fora dos indivíduos como acreditaram os funcional-estruturalistas. Para superar a dicotomia entre sociedade e indivíduo é preciso deixar de pensar em termos de substâncias isoladas e únicas e começar a pensar em termos de relações.


Comentários com base no texto:
ELIAS, Norbert. “A Sociedade dos Indivíduos”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 11-66

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Abertas inscrições para o XV Congresso Brasileiro de Sociologia

Estão abertas as inscrições em GT's e do Sociólogos do Futuro para o próximo Congresso da SBS "Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos", que acontecerá de 26 a 29 de julho de 2011, no campus da UFPR, Curitiba (PR), Brasil.
Maiores informações, no site do evento: http://www.sbs2011.sbsociologia.com.br/

terça-feira, 7 de setembro de 2010

XV Congresso Brasileiro de Sociologia abrirá inscrições em breve!

O próximo Congresso da SBS acontecerá de 26 a 29 de julho de 2011, no campus da UFPR, Curitiba (PR), Brasil. O processo de inscrição de trabalho nos GTs, bem como a lista dos grupos de trabalho programados para o XV Congresso, serão disponibilizados nos próximos dias. As inscrições para o Sociólogos do Futuro estão abertas.



O tema do evento é Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos. Abaixo reproduzo a carta sobre o tema do evento, conforme publicada no site:

"A Sociologia está baseada em uma firme tradição teórica e um consistente legado metodológico, ao mesmo tempo, que lida com questões contemporâneas que estão em permanente mutação. Dessa forma, somos desafiados a refletir de diversas maneiras sobre novos temas e novas formas de pensar que se impõem pela dinâmica da vida social. O tema do XV Congresso Brasileiro de Sociologia pretende debater esta articulação entre a tradição e as transformações, inerentes ao objeto de estudo da nossa disciplina que são as relações sociais. A Sociologia é uma ciência da atualidade e lida com a articulação entre elementos da vida social, que se mantém ao longo da história de nossas sociedades, e as novas configurações que se impõem pela ação humana. Desse modo, ela se transforma como ciência porque precisa incorporar novas perspectivas e novas formas de compreensão da realidade. Essa convivência entre o antigo e o novo, entre estruturas e agências, é inerente à própria vida social. Nosso mundo se move entre transformações e continuações... A Sociologia espelha seu objeto de estudo, que é a sociedade – em sua tensão entre as permanências e as mudanças. Ao comemorar seus 60 Anos em 2009, a SBS demonstrou a vitalidade desta ciência disposta a compreender e incorporar novos atores e novas questões, fornecendo as bases objetivas para a comunicação entre seu passado e seu futuro – aqui com a participação de jovens pesquisadores e estudantes. Nossa associação têm sido marcada pela disposição em incorporar contribuições das diferentes gerações de sociólogos, bem como em envolver a Sociologia em suas fronteiras disciplinares. Recuperando a história de nossa associação percebemos que sua institucionalização foi fortemente afetada pelos processos sociais e políticos que marcaram o século XX no Brasil, que levou a sua criação e recriação em diferentes momentos demonstrando a capacidade de invenção e resistência da nossa disciplina. Nesse congresso teremos uma oportunidade de avaliar e refletir sobre a constituição destes novos temas, posto que estaremos abertos para a proposição de GT’s, Mesas, Fóruns e Sessões Especiais que certamente expressam o que tem se produzido de mais expressivo na Sociologia Brasileira."

Texto reproduzido de: http://www.sbs2011.sbsociologia.com.br

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sociedade da informação e ética hacker

No clássico A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber afirmava que a doutrina protestante, da predestinação e da santidade do trabalho, na qual a noção de trabalho aparece como dever, como vocação, teria sido um fator cultural decisivo para a formação da mentalidade capitalista e teria potencializado os princípios éticos da Era Industrial.
Em “A ética dos hackers e o espírito da era da informação”, Himanen afirma que os hackers, mais do que possuírem valores diferentes daqueles dos protestantes, representam uma oposição à moral industrial em diversos sentidos. Himanen contrapõe os valores da ética dos hackers aos da protestante: transformar a monotonia da sexta-feira em um domingo, democratizar a informação, romper com a jaula de ferro da disciplina e da burocracia, realizar a paixão criativa através do computador, não se render à ganância, são alguns dos valores de um hacker. Segundo Himanen, o termo hacker vem sendo empregado incorretamente, sendo relacionado a programadores que praticam atividades criminosas: esses “piratas” da Internet, que violam os sistemas de empresas e que roubam números de cartões de crédito ou contas bancárias, na verdade, não passariam de crackers. A palavra inglesa hacker, em seu sentido original, refere-se a programadores de computador entusiasmados, que compartilham seu trabalho técnico, científico ou artístico com outros. O termo hacker, que Himanen resgata, surgiu, no início dos anos 1960, como a autodenominação utilizada por um grupo de jovens programadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que tinham em comum o gosto pelos estudos, o apurado conhecimento de informática e o jeito passional de lidar com os negócios.

Himanen busca provar a tese de que os valores dos hackers seriam, na verdade, a chave de trabalho obsessivo, dotado de ritmo próprio, fundado na crença em grandes realizações através da união de forças, de forma criativa e apaixonada. Como afirma o autor, seu interesse em realizar uma etnografia dos hackers foi tecnológico, relacionado com o fato de que os símbolos mais conhecidos da nossa era, a Rede, o computador pessoal e os softwares que fazem isso tudo funcionar não foram, na realidade, criados por empresas ou governos, mas por indivíduos entusiastas que se empenharam em pôr em prática suas idéias, com outros indivíduos de interesses afins e que trabalhavam a seu próprio ritmo. No prólogo da obra, Linos Torvalds destaca que há três categorias básicas para a motivação dos hackers: a sobrevivência, a vida social e o entretenimento. Segundo Himanen, essa última categoria deve ser entendida com “E” maiúsculo, por tratar-se do tipo de estímulo que retira o hacker do tédio e do aborrecimento, fornecendo sentido à sua vida. Porém, este entretenimento significa trabalhar com prazer, e não, jogar Nintendo. O “Entretenimento” seria qualquer coisa intrinsecamente interessante, desafiante e fundamental na vida de cada indivíduo empenhando em realizar sua paixão criativa. Para Himanen, o sentido de “Entretenimento” deve ser paixão, ou seja, a dedicação a uma atividade que seja intrinsecamente interessante, inspiradora e que cause regozijo: uma relação apaixonada com o trabalho e que, historicamente, teria caracterizado o “mundo intelectual”.
O ethos hacker nega a relação do trabalho com o tempo, da maneira estabelecida pela ética protestante. O hacker é também um indivíduo obcecado pelo trabalho, mas não pelos prazos. Seu compromisso não é com um emprego, mas com a expressão de sua realização como indivíduo; sua recompensa não é apenas o salário, mas o reconhecimento do seu trabalho pelos interessados neste trabalho. Os hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida também em um tempo lúdico para a humanidade. A plena realização de suas capacidades criativas depende de seus impulsos, não podendo ser heterodeterminada. Os hackers não subscrevem o adágio “o tempo é dinheiro” e sim, “o tempo é minha vida”.


Trechos do texto:
MOCELIN, Daniel Gustavo. A ética hacker do trabalho: rompendo com a jaula de ferro? Resenha do livro de Pekka Himanen, Linus Torvalds ("Prólogo") & Manuel Castells ("Epílogo"). The hacker ethic and the spirit of the information age. Nova York: Random House, 2001; Sociologias, n° 19, jan-jun, 2008. Este texto na integra está disponível neste blog, no link "produções do editor".

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Linus Torvalds fala ao G1 sobre tecnologia e ética hacker

O finlandês Linus Torvalds escreveu as primeiras linhas de código de programação do núcleo do Linux em 1991, quando estudava ciências da computação na Universidade de Helsinque. Vinte anos depois, o hobby do jovem “hacker”, que queria apenas ver se era capaz de criar seu próprio sistema operacional, é praticamente onipresente. Ele é a base da internet: mais de 50% dos computadores que armazenam e distribuem conteúdo da web utilizam o sistema.