"Fato Sociológico" é um Web Log desenvolvido para a discussão sociológica, em seus aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos. Criado em 21 de maio de 2010, o projeto visa a constituição de um espaço de exposição, discussão e interlocução de ideias sobre o pensamento social e as tradições sociológicas, aberto ao público e sem fins comerciais. As mensagens aqui postadas visam a informação e a divulgação de questões pertinentes, sem qualquer intenção de denegrir a imagem de instituições, pessoas ou organizações. Entendemos que as imagens compiladas são de domínio público, e acreditamos no bom senso dos detentores de seus direitos autorais em permitir o uso irrestrito dos materiais, por isso nos dispomos a promover o merecido reconhecimento quando solicitado.


sábado, 20 de novembro de 2010

Wright Mills: "A imaginação sociológica"

De tempos em tempos parece necessário resgatar alguns conceitos históricos desenvolvidos por sociólogos para que não caiam no esquecimento ou para que não tenham seu sentido desviado. Nos anos 1960, Wright Mills, sociólogo da tradição crítica norte-americana, desenvolveu o conceito de "imaginação sociológica", que ajudou muitos de seus alunos na época a se engajarem nos mais diversos movimentos sociais que emergiram naquele contexto agitado, além de questionarem as razões para uma Guerra com o Vietnã.

Wright Mills (1969) descreve o pensamento sociológico como uma prática criativa, que define como “imaginação sociológica”. Essa prática criativa seria a tomada de consciência sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade mais ampla. Trata-se da capacidade de conectar situações da realidade, como os interesses em disputa, percebendo que a sociedade não se apresenta de determinada forma por acaso. Essa conscientização derivada do conhecimento sociológico permite que todos (não apenas os sociólogos por formação) compreendam as ligações existentes entre o ambiente social pessoal imediato e o mundo social impessoal que circunda e que colabora para moldar as pessoas. Resgatando elementos específicos elaborados pelos pensadores sociais mais clássicos, Mills (1969) aponta como um elemento-chave dessa “imaginação sociológica” a capacidade de poder visualizar a sociedade com um certo sentido de distanciamento, em vez de fazê-lo apenas da perspectiva das experiências pessoais e das pré-concepções culturais.


A “imaginação sociológica” é um ato que permite ir além das experiências e observações pessoais para compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa que se separam, bem como para os filhos. Entretanto, o uso da “imaginação sociológica” permite compreender o divórcio não apenas como problema pessoal individual, mas também como uma preocupação social. O aumento da taxa de divórcio redefine uma instituição fundamental – a família. Com a perspectiva da “imaginação sociológica”, Mills (1969) vai propor como possibilidade da sociologia permitir que o indivíduo relacione sua biografia com a realidade histórico-social, permitindo, assim, a conscientização do agente. Desta forma, poder-se-ia argumentar que o conhecimento sociológico pretende implementar o aprendizado tradicional, independentemente da futura profissionalização dos sujeitos. O sentido seria o de oferecer um instrumental analítico-reflexivo, forjado em todos os cidadãos. Cabe salientar que a “imaginação sociologia” não consistiria simplesmente em aumentar o grau de informação das pessoas, mas: "O que precisam, o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos" (MILLS, 1969, p. 11).

A utilização da “imaginação sociológica” se fundamenta na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no período no qual sua situação e seu ser se manifestam. Mills também sugere que por meio da “imaginação sociológica” os homens podem perceber o que está acontecendo no mundo, e compreender o que acontece com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia e da história, na sociedade (MILLS, 1969, p. 14).

Como base nessa forma de reflexão, Schaefer (2006) entende que a “imaginação sociológica” é uma ferramenta que proporciona poder, que permite olhar para além de uma compreensão limitada do comportamento humano, ver o mundo e as pessoas de uma forma nova, através de uma “lente” mais potente que o olhar habitual. Pode ser algo tão simples como entender por que alguém com quem temos afinidades prefere música sertaneja ao hip-hop ou entender as diferenças culturais entre as populações do mundo.

MILLS, Wright C. A imaginação sociológica. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. 246p.

SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6ª edição. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Jornal da Globo: Gerações no mercado de trabalho

Excelente série de reportagens produzidas pelo Jornal da Globo sobre as Gerações no mercado de trabalho, exibida entre 15 e 19 de novembro de 2010. As matérias descrevem o perfil das gerações Baby Boomers (BB), X, Y e Z e como suas atitudes nos locais de trabalho podem produzir conflitos de interesses e de intenções entre os profissionais. Da mesma maneira, pode-se perceber as diferenças nas expectativas profissionais que são criadas pelas pessoas formadas em diferentes épocas e contextos e como suas atitutes podem ser complementares para ampliar as vantagens competitivas das firmas. Assista na sequência.









Congresso Brasileiro de Sociologia, Curitiba, 26-29 de julho de 2011, UFPR

Encerram no próximo dia 25 de novembro as inscrições de trabalhos para os GT's do XV Congresso Brasileiro de Sociologia: "Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos", promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Para maiores informações, clique neste link: http://www.sbs2011.sbsociologia.com.br/




O próximo Congresso da SBS acontecerá de 26 a 29 de julho de 2011, no campus da UFPR, Curitiba (PR), Brasil. O processo de inscrição de trabalho nos GTs, bem como a lista dos grupos de trabalho programados para o XV Congresso estão disponíveis no site do evento.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O clube do imperador (Emperor's club), de Michael Hoffman, EUA, 2002

Emperor's club, de Michael Hoffman, é um bom filme, com conteúdo interessante para ser ministrado em aulas de formação de professores. O filme ambientando em um colégio interno para rapazes conta a história de um professor chamado Hundert (Kevin Kline) que organiza o “Clube do Imperador”, uma competição sobre conhecimentos em história greco-romana. Em suas aulas, o mestre tenta moldar a personalidade dos alunos a partir de exemplos virtuosos de importantes personagens históricos. Porém, o professor dedicado vê sua crença nos princípios éticos e morais da educação abalados quando se depara com um aluno arrogante e trapaceiro, Sedgewick Bell (Emili Hirsch), filho de um senador milionário e sem escrúpulos. O professor se coloca o desafio de recuperar o garoto e acaba, desonestamente, forjando uma classificação no concurso (Clube do Imperador), desviando-se de seu caráter reto para tentar aproximar-se do garoto e passar-lhe seus conceitos morais. Será possível aos professores através de suas atitudes modificar o futuro de seus alunos? Até que ponto o convívio diário com os professores pode influenciar o caráter e as atitudes dos estudantes? Percebendo, porém, que apesar de alguns poucos avanços não consegue mudar o caráter do aluno, o professor entra em um conflito interno sobre o que são vitórias e derrotas. Esse conflito se torna mais profundo quando se decepciona, ao perceber que, mesmo entre os mestres da escola, a esperteza se sobrepõe tanto a retidão de caráter quanto a honestidade. Quando chega sua chance de galgar o cargo máximo, é preterido como diretor. A escolha recai sobre alguém bem mais jovem que ele e que tinha como principal habilidade conseguir dinheiro para sustentar o colégio. O roteiro do filme permite perceber que o caráter e a personalidade das pessoas são capitais sociais forjados na trajetória de vida dos sujeitos e que, no decorrer da vida, os meios podem interferir, porém, nem sempre podemos garantir que se possa atingir aquilo a que almejamos com nossas convicções pedagógicas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Desmistificando a origem dos votos que elegeram Dilma Rousseff

A continuidade dos avanços sócio-econômicos do governo do presidente Lula e um governo voltado para todas as camadas e todos os grupos sociais parece ser o fator principal da eleição da candidata governista ontem. Qualquer insinuação de que a petista Dilma Rousseff foi eleita apenas em razão da vantagem aplicada nas regiões Norte e Nordeste é falsa. Levantamento com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que ela ganharia a eleição mesmo se fossem computados apenas os votos do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste. Os dados abaixo são do portal Globo.com e G1.



Dilma teve mais de 55 milhões de votos no país; Serra teve pouco mais de 43 milhões. No Nordeste, a vantagem de Dilma foi de 18 milhões de votos, contra 7 milhões do tucano. Parece evidente que tamanha desproporção nos votos da região Nordeste em favor de Dilma representam o reconhecimento de avanços em uma região que por muito tempo foi esquecida pelas políticas públicas federais.

Fato político: Brasil elege a primeira mulher presidente

Ontem, 31 de outubro de 2010, o Brasil elegeu a primeira mulher presidente de sua história, com 55.752.508 votos (56,05% dos votos válidos) Num pronunciamento de estadista, proferido logo após o anúncio da vitória nas urnas, a presidenta Dilma Rousseff fala em igualdade, democracia, liberdade de imprensa e de culto, aliados políticos, tolerância e respeito à oposição, economia, combate a corrupção e a pobreza.