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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Não podemos nos esquecer dessa matéria 2

Outra publicação de Veja que atinge diretamente todos os profissionais da sociologia foi a opinião do colunista Reinaldo Azevedo, publicada em Veja on line, de 3 de junho de 2008. Diferentemente da matéria mais recente que reproduzimos em outro post, esta é de total preconceito.

Leia abaixo o texto da coluna:

Cuidem de suas crianças. Os molestadores ideológicos vêm ai.
Por Reinaldo de Azevedo

José Alencar, presidente interino da República, sancionou ontem a lei que torna filosofia e sociologia disciplinas obrigatórias no ensino médio. O texto foi aprovado em maio pelo Senado. Em 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso vetou um projeto de lei de igual conteúdo sob o argumento que criava ônus para os Estados. “O que se vê é que, evidentemente, nos períodos em que não interessava a discussão crítica sobre a vida nacional, estas disciplinas foram desestimuladas”, afirmou ontem o ministro da Educação, Fernando Haddad, que será, aposto, o candidato do PT à Presidência em 2010. Leitores me enviaram comentários ontem indagando o que acho da medida. Uma porcaria! E por várias razões combinadas. Os estados terão um ano para se adaptar às novas regras. Muito bem! A primeira pergunta é esta: cadê os professores? Exames internacionais de matemática e entendimento de texto demonstram que o ensino brasileiro é uma tragédia. Filosofia e sociologia vão ajudar em quê? Em nada. Mas isso ainda não é o mais preocupante. A fala de Haddad, capaz de escrever monstruosidades em seus livros, já dá a pista do que vem por aí. Ao lado da eterna reclamação dos professores de que faltam condições de trabalho nas escolas, o que, no geral, é mentira, o tal “educação crítica”, de que fala o ministro, responde por boa parte da miséria do país nessa área. Se o ensino de matemática — e das ciências — é uma lástima, o das disciplinas abrigadas na rubrica “Humanidades” costuma ser uma insanidade, o que é comprovado por um exame simples dos livros didáticos de história e geografia, por exemplo: perdem-se no mais estúpido proselitismo, pautados por um submarxismo ignorante e bolorento. Já demonstrei aqui de que monstruosidades é capaz um professor de história de um cursinho, mesmo tendo de seguir uma apostila. A obrigatoriedade da disciplina fará com que livros didáticos com a chancela do MEC sejam produzidos e distribuídos. Vão se abrir as portas do horror. A grade das escolas terá de ser ajustada, e as demais disciplinas, hoje já mal e porcamente ensinadas, é que vão pagar o pato. Escolas particulares de primeiro time darão um jeito de ampliar a carga — e, se preciso, elevarão o preço das mensalidades. Mas como ampliar o período de quatro horas de aula dos estudantes do ensino noturno?
O Brasil acha que ensinar a fazer conta é coisa muito complicada; não é mesmo para nós. O nosso negócio, como é mesmo?, é ensinar a pensar, entenderam? A “refletir criticamente sobre a nossa realidade”, para que se formem, então, “cidadãos conscientes”. Puro lixo retórico e ideológico. Para seguir a lei, professores de outras disciplinas terão de ser improvisados nas aulas de filosofia e sociologia. Mal posso esperar pelo material didático. O “filósofo” vai ministrar história do pensamento? Duvido! As aulas se perderão em grandes debates — de preferência, em círculo — sobre os dilemas “éticos” de nossa realidade. Os alunos continuarão com alguma dificuldade para dizer quanto é sete vezes nove, mas serão estimulados a fazer sempre “colocações” muito inteligentes. Estamos fritos! Cuidem de suas crianças. Vai começar o período do molestamento ideológico explícito.

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