
A concepção de Giddens é ‘realista’ justificando a sua abordagem que privilegia uma reformulação ontológica do ser. Giddens acredita que os agentes, antes de se preocuparem com questões aparentes e mascaradas, estão vivendo a realidade em que eles se encontram. E, é isso efetivamente ao que o autor se propõe ao oferecer sua teoria. O próprio termo estruturação implica o suposto de que a sociedade está em contínuo processo de transformação, isso porque os agentes caracterizam-se por uma cogniscitividade e porque são reflexivos. Assim, as mudanças são melhor observadas quando se analisam os espaços ou períodos de tempo. A transformação social na perspectiva de Giddens é constante, ocorre a todo o momento em que a linguagem e estimulada e pela atuação dos atores humanos. A ciência, por exemplo, não teria maior capacidade de intervenção na realidade do que qualquer ator teria. Neste sentido, a ciência perde seu caráter de libertadora, muito enfatizado por outras correntes do pensamento sociológico, isso porque são os atores que produzem e reproduzem a sociedade em sua vida cotidiana.
A ação dos agentes não é determinada por restrições externas aos agentes. Giddens parece estar enfatizando uma preocupação com a autonomia individual (talvez o termo mais adequado fosse independência individual), no sentido de “os atores são capazes de atuação e ‘dever-se-ia’ deixar os atores atuar” e permitir que eles encontrem a melhor forma de atuação mobilizando estrategicamente os recursos que são oferecidos. Dito de outra maneira, na teoria sintética proposta por Giddens, a importância do ator está acentuada mas sem desconsiderar a estrutura. A perspectiva é a de desacentuar os elementos de coação externa aos indivíduos sem negar que estes existem. Na verdade, a teoria da estruturação seria uma perspectiva que destaca a análise de quais espaços de ação são disponibilizados aos atores, considerando a maneira como a vida é “tocada” e a sociedade é “construída” pelos agentes. Um pressuposto desta teoria é o de que os atores são agentes competentes: são atores que conhecem muito, discursiva e tacitamente, a respeito do ambiente social em que vivem, do seu potencial de manipular sua situação e das suas reais possibilidades em efetivar essa manipulação. Para Giddens, se estimulados, os atores podem dizer muito acerca de suas opiniões sobre o ambiente em que vivem e as suas expectativas e estratégias para almejá-las e sobre por que “reagem” do modo como “reagem”. Mais do que se conformarem com uma situação que se lhes apresenta, os atores podem demonstrar estar reagindo através de estratégias elaboradas a partir das possibilidades por eles encontradas. Essa capacidade de ação implica que os atores estejam reproduzindo as próprias condições que tornaram possível a sua ação. Na reprodução da vida cotidiana, monitorada pelo próprio agente, transformações serão constantemente implementadas e a reprodução será ao mesmo tempo produção. Ou seja, nas práticas sociais estarão contidos e sendo mobilizados os elementos potencializadores (regras e recursos) da permanente constituição (produção e reprodução) da sociedade pela via da ação humana. Giddens propõe uma elaboração da realidade social em que a ação está livre da estrutura ao mesmo tempo em que é potencializada pela estrutura. (Reflexão com base em: GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade. Tradução: Álvaro Cabral. 2ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Original: 1984).
Anthony Giddens (18 de janeiro de 1938, Londres) é um sociólogo britânico, renomado por sua Teoria da estruturação. Considerado por muitos como o mais importante filósofo social inglês contemporâneo, além de ser ideólogo do novo trabalhismo britânico e teórico pioneiro da Terceira via, tem mais de vinte livros publicados ao longo de duas décadas. Do ponto de vista acadêmico, o seu interesse centra-se em reformular a teoria social e reexaminar a compreensão do desenvolvimento e da modernidade. A obra abarca diversas temáticas, entre as quais a história do pensamento social, a estrutura de classes, elites e poder, nações e nacionalismos, identidade pessoal e social, a família, relações e sexualidade. Foi um dos primeiros autores a trabalhar o conceito de globalização. Mais recentemente tem estado na vanguarda do desenvolvimento de ideias políticas de centro-esquerda, tendo ajudado a popularizar a ideia de Terceira via, com que pretende contribuir para a renovação da social-democracia. Foi Director da London School of Economics and Political Science (LSE) entre 1997 e 2003. Giddens foi assessor do ex-Primeiro-ministro britânico Tony Blair.
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