Alguns autores relacionam o nascimento das fábricas com a necessidade da instauração de uma nova ética. Thompson (1998) realiza uma revisão historiográfica tratando sobre as mudanças importantes na percepção do tempo que ocorrerem com a introdução do relógio e da eletricidade na vida cotidiana da sociedade ocidental. A partir do contraste que se estabelece entre o “tempo da natureza” e o “tempo do relógio”, no processo de formação da sociedade capitalista européia e declínio do sistema feudal, o autor identifica mudanças nos sentidos, nos hábitos, no conhecimento, no trabalho e na economia. Para Thompson, as mudanças na noção de tempo provocaram mudanças na organização e na orientação social. A noção de tempo adota novo valor, adotado desde as Igrejas até as fábricas, toda a organização social passa a ser controlada pelo tempo e toda a ação social converte-se em “tempo é dinheiro”. Seria como se os indivíduos tivessem um “relógio moral interno”, um valor internalizado fundamentado na concepção do tempo, por isso situado dentre de uma ética social que se difunde nas fábricas, escolas, na vida das pessoas: formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova disciplina de tempo.
“A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com seus mestres a importância do tempo; a segunda geração formou os seus comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela jornada de dez horas; a terceira geração fez greve pelas horas extras ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas trabalhadas fora da hora do expediente. Eles tinham aceito as categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua lição, a de que tempo é dinheiro” (Thompson, 1998: p. 294).
Trata-se de abordar a questão da dominação social desde a perspectiva de como os atores sociais passam a internalizar fenômenos correlatos ao avanço do capitalismo e como essa internalização passa a orientar o sentido de suas ações.
Comentários com base no texto:
THOMPSON, Edward Palmer. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. IN: Costumes em comum. São Paulo: Companhia das letras, 1998. Capítulo 6. Texto original de 1979.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Muito bom!
ResponderExcluir