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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Espírito, Eu e sociedade: George Herbert Mead

Situando o pensamento de GH Mead: Tradição sociológica americana: caráter empírico, censo de 1790. Tradição européia: evolucionismo, utilitarismo, economia política, teorias sintéticas, critica da razão, romantismo, idealismo. Pragmatismo: realidade não existe fora do mundo real: indução a partir dos fatos observados. Interacionismo simbólico: os atores se relacionam com o mundo, a interação é mediada pela linguagem, comunicação, símbolos. A sociologia estuda a ação e a interação. Influência da filosofia alemã: nove mil americanos estudaram na Alemanha entre 1815 e 1915. Psicosociologia ou Psicologia social.

A obra de Mead ora discutida está organizada em três grandes pontos: Mente, Self e Sociedade. Esta resenha prioriza a discussão da Parte III da obra, em que se expôs a concepção do autor sobre o “indivíduo”, no texto, em espanhol, referida por La Persona, e no original, em inglês, por Self. A discussão do texto de Mead precisa ser contextualizada. George Herbert Mead é um dos principais clássicos da psicologia social, e seu destaque na sociologia está ligado à Escola de Chicago como um dos fundadores do Interacionismo Simbólico. Destaca-se, ainda, a tradição sociológica americana e o pragmatismo. A idéia básica a se considerar é que para Mead, a sociologia estuda a consciência, a ação e a interação. Em Mente, Self e Sociedade, Mead descreve como a mente e o self individuais se originam no processo social. A idéia do autor é que o indivíduo se origina e só pode se originar a partir do social, sendo o social que o constitui, mesmo que o indivíduo internalizando o social possa modificar o social. Mead realiza uma “descrição densa” da experiência individual no social e dos processos de sociabilidade que permite ao indivíduo emergir. O modelo de Mead da sociedade é um modelo orgânico em que os indivíduos estão relacionados ao processo social no mesmo sentido que as peças corporais são relacionadas aos corpos. Assim, para Mead, a psicologia individual seria inteligível somente nos termos de processos sociais. Mead parte do condutivismo, mas critica linhas desta corrente dando prioridade à sociedade nas suas análises. Para o condutivismo mais tradicional de Watson, importaria apenas a análise da conduta observável e os estímulos que provocam esta conduta. Mead dava importância à conduta observável, mas também reconhecia que existiam aspectos “encobertos” na conduta que emanam do social. Assim, Mead contrasta sua teoria social do self com as teorias individualistas do self. O desenvolvimento do self (mente) e a consciência do self (self, persona, indivíduo social) ocorrem dentro do campo da experiência e são, primariamente, sociais. O self só pode ser desenvolvido plenamente quando as pessoas tornam-se membros de uma comunidade e agem segundo as atitudes comuns desta comunidade. O self não está no nascimento, mas emerge do processo da experiência e atividade social, isto é, torna-se indivíduo em conseqüência de suas relações a esse processo e ao todo e a outros indivíduos dentro desse processo – isto é, subentende “ser um objeto” deste social. O self é um processo reflexivo, no sentido de que o self é a capacidade de considerar-se como objeto. Para Mead, é a reflexividade do self que “o distingue de outros objetos e do corpo”. A atividade reflexiva inicia pela capacidade do ator de se colocar no lugar do outro. Seria mediante essa reflexão que o processo social seria internalizado na experiência dos indivíduos, e, ao adotar a atitude do outro, o indivíduo estria conscientemente capacitado para se adaptar a esse processo e para modificar tal processo em qualquer ato social dado. Assim, o indivíduo não se avalia a partir da sua perspectiva e, sim, colocando-se na perspectiva de outros indivíduos ou do ponto de vista do grupo social. Neste sentido, poder-se-ia entender que a teorização de Mead representa os indivíduos como atores conformados ao grupo de pertença. Essa idéia reforça sua perspectiva de anterioridade do social sobre o individual, o que lhe aproxima, de certa maneira, da teoria de Durkheim. Entretanto, a abordagem é distinta, pois enquanto Durkheim relegaria toda a sua atenção sobre o que é social e as coisas propriamente internalizáveis, Mead está interessado no processo de internalização, em como o social é internalizável. Neste sentido, entende-se que Mead está interessado nas implicações da ordem social sobre a produção da sociabilidade e interação. Nesta obra analisada, encontra-se uma explicação para a constituição e manutenção de identidades sociais, entendendo como estas conferem ao self um ambiente estável e familiar. A concepção de Mead também é uma explanação de como esse processo constrói e mantém a realidade social. A mente, para Mead, é uma faculdade biológica que permite apreender e manejar símbolos cujos significados são compartilhados por diferentes pessoas. Mediante a mente poder-se-ia estabelecer uma linguagem baseada em significados estabelecidos por uma convenção. O ato de pensar é uma ação mediante a qual os indivíduos tomam consciência de si mesmos e aprendem a conhecer os comportamentos socialmente aceitáveis. Os indivíduos fazem uma série de construções mentais (adaptação) a fim de conhecer os papéis sociais e como cumpri-los em diferentes situações. A concepção social do self que Mead discute, envolve que os selves individuais são os produtos da interação social e não das precondições (lógicas ou biológicas) da interação. Mead especifica que cada self é diferente dos demais. Os selfs compartilham uma estrutura comum, mas cada um recebe uma particular articulação biográfica. As pessoas podem se inserir no grupo não somente se conformando a ele, mas, também, introduzindo mudanças nele, o que permitiria entender um pouco da perspectiva de Mead sobre mudança social. O self constitui-se como uma unidade dual de um “eu” (I) e um “mim” (me). Pelo “eu” o self individua-se, pelo “mim” o self socializa-se. Tais pólos seriam independentes, mas referem-se necessariamente um ao outro. Diferente de outros precursores da psicologia social e do interacionaismo simbólico, Mead concentra sua investigação não tanto numa subjetivação espiritual do self, mas na capacidade do self de introjetar os valores e as regras sociais, sem o que o self não poderia constituir-se. A diferença individual resulta de um processo de significação de si em que há um outro generalizado contra o qual o indivíduo reage e pelo qual o indivíduo se constitui. O eu é uma reação do corpo ao eu generalizado (o ‘mim’). O ‘eu’ é a reação do organismo às atitudes dos outros; o ‘mim’ é a série de atitudes organizadas dos outros, que o eu mesmo adota. As atitudes dos outros constituem o ‘mim’ organizado e o eu reage contra elas como um ‘eu’.

Referência:
MEAD, George. Espíritu, Persona y Sociedad (Mind, Self and Society). México: Paidós, 1993.

2 comentários:

  1. Bom resumo da obra de Mead.

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  2. Estou estudando o livro do Farr e as vezes fica um pouco confuso já que sinto uma generalização. Muito bom seu texto, me aprofundou mais!

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